segunda-feira, janeiro 16, 2012

(Des)Esperança

Já nem livros, nem sonhos, nem viagens, nem fotos, nem músicas, nem ondas, nem nada...Tudo mudou, e tão rápido. Dói a saudade da vida que não se vai ter, arde a raiva da mudança imposta, e os braços caem, e a desesperança surge. Sou fraco. O Mundo é enorme e conspira a seu favor, os egos e umbigos degladiam-se pelo seu quinhão de terra, de fama, de dinheiro. E corrompem a cada passo que dão...Onde estão os ideólogos, os filósofos, os justos e os pacifistas? Criou-se um jardim só para eles, com uma mão cheia de nada, e deixamos que se iludam e opinem, inconsequentemente, enquanto a pilhagem segue com desmesurada violência e falta de escrúpulo. Porque têm tanta força os vilões? Porque ensurdece tanto o silêncio dos bons, dos puros?

O que me diz o meu País?

Este é um dos piores momentos da Nossa História. Não há dinheiro, não há justiça, não há civismo nem educação. Esta geração está perdida, a década que passou também, o futuro é de perda progressiva. Somos velhos, os novos não chegam, o que fazemos? Mandamos emigrar, sair de cá...o vosso País não vos quer por cá. É como uma namorada atenciosa que, na sua profunda bondade, nos diz "Não és tu...sou eu."
Estão cá os que mais amo (alguns também já partiram), está cá a minha raíz e a minha história. Vocês estão cá todos...! Mas o País não me quer aqui. Ou quer: calado, subordinado, complacente e subserviente. Nada fizemos para merecer as cartas que nos foram dadas, mas é com elas que temos de ir a jogo. E eu estou cansado. Sou fraco. Não quero ir a jogo, se os ases já saíram todos e sempre aos mesmos, vezes sem conta, e são ainda eles quem baralha, parte e volta a dar.

Livros? Música? Cinema? Teatro? Desporto? Equilíbrio? Futuro? Pura miragem..."Nada disto é teu!" dizem-me agora. E querem fazer-me crer que ainda devia estar grato pela quantidade enorme de passos que esta miragem me encorajou a dar. E logo me dão uma solução para o meu desânimo: mais miragens. Novas, renovadas, modernas miragens escravizantes que apenas lhes dão mais tempo para comer a carne, os ossos, e até lambuzarem os dedos. Para que não fique mesmo nada de nada, e a culpa não possa ser imputada.

Este sou eu, e sou fraco. Terei algum dia sido forte, determinado, esperançoso e contagiante? Não sei. Lembro-me disso, mas temo que a memória me seja também uma miragem.

Etiquetas: