sexta-feira, dezembro 09, 2005

Poema de Nelo Maria

Escrito por Manoel Maria Barbosa du Bocage, um clássico da literatura Portuguesa:


A Á G U A


que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

**

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão

**

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

**

Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche
e lava a boca depois de um broche.

10 Comments:

Blogger Pedwar said...

Que belo pedaço de poesia...É muito inspirador! Devia ser lido como uma lição de vida da qual podemos aprender muita coisa valiosa que nunca se sabe quando nos dará jeito. Devia ser de leitura obrigatória logo a partir do 2º ciclo do ensino básico! Porque é de pequenino que se torce o pepino,não é o que se costuma dizer?...ou uma cena assim parecida...

09 dezembro, 2005 19:07  
Blogger Catus said...

Depois de torcer o pepino meus meninos, e meninas porque não (é bom aprendam a trabalhar desde cedo), convém passar por água já dizia nelo maria

09 dezembro, 2005 19:43  
Blogger Dalet said...

Já estou a imaginar o Batatinha a recitar este poema às crianças!

09 dezembro, 2005 20:09  
Blogger Catus said...

e o companhia a torcer o pepino...

09 dezembro, 2005 21:51  
Blogger Black & White said...

Um hino à poesia... sim senhor!

10 dezembro, 2005 01:20  
Blogger Catus said...

Retrato próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage

11 dezembro, 2005 21:05  
Blogger Catus said...

Devo chamar a atenção dos leitores para a terceira estrofe.

11 dezembro, 2005 21:06  
Blogger Catus said...

Prometo que é o ultimo... Este homem foi grande

Tinha de uma cadela um cão fome canina,
Ele bom perdigueiro, ela de casta fina:
Mil foscas lhe fazia o terno maganão,
Mas gastava o seu tempo, o seu carinho em
vão.
Dando no chichisbéu dentada e mais dentada,
A fêmea parecia um cadela honrada
E incapaz de ceder às pretensões de amor.
Mas o amante infeliz foi sabedor
De que a mesma, em que via ações tão
desabridas,
Era co'um torpe cão fagueira às
escondidas.
Se és sagaz, meu leitor, talvez tenhas visto
Cadelas de dois pés, que também fazem isto.


Bocage

11 dezembro, 2005 21:15  
Blogger Catus said...

Para quem quiser conhecer mais sobre o poeta.
http://www.secrel.com.br/jpoesia/bocage.html

11 dezembro, 2005 21:16  
Blogger Arba:a said...

LINDO!!!! "Se és sagaz, meu leitor, talvez tenhas visto cadelas de dois pés que também fazem isto"!!! Muito bom, um verdadeiro visionário, capaz de saber na sua época como seriam as coisas no ano 2005 e 2006 e etc...

12 dezembro, 2005 20:13  

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