domingo, novembro 05, 2006

Regresso A Casa

O dia amanheceu carregado, nuvens cinzentas pintavam os céus. A comum "nortada" como se referem os autóctones desse lugar chamado Catxines ao vento típico de fim de tarde no litoral, bufava irrequieta e insistentemente. Ameaçava chover. Enfim...nada de anormal, apenas mais um dia entre tantos outros, não fosse o facto do líder supremo e comandante (havia, aliás, quem já se dirigisse a tão distinta figura como "meu imperador") desse pequeno centro ibérico se encontrasse de visita ao sítio que o viu nascer.
El comandante Tcholes encontrava-se nessa manhã em visita oficial a Catxines. Algumas pessoas lá da terra queixavam-se de que o poder lhe havia subido à cabeça, que já não era o mesmo. O mesmo não era, dado que numa das inúmeras batalhas travadas na célebre conquista ibérica-operação que Tcholes apelidou de "chupai-ma piça hermanos do cuaralho!!!"-Tcholes tinha sido ferido gravemente na coxa direita por um machado inimigo, o que lhe trouxe alguns incómodos na sua vida sexual... A sua bengala fazia agora parte da sua imagem de marca.
Com o domínio de toda a Península Ibérica, Tcholes passou a ter um ainda maior peso na cena internacional. A RUCC passou a fazer parte do conselho de segurança da ONU. Certos países, no entanto, não viram com bons olhos a anexação de Espanha. Começando pelos próprios espanhóis. A União Europeia ainda esboçou tomar medidas drásticas para impedir este acto abominável de acontecer, só que Tcholes-no seu estilo inconfundível-marcou uma reunião com o presidente da Comissão Europeia-que também havia sido português em tempos mas que estava no exílio em Bruxelas dada a sua discordância em ser catxineiro-e esbofeteou-o, pura e simplesmente, em frente a todos os presentes na dita reunião como se de uma rameira se tratasse e avisou: "tu comigo é mansinho mano, tajmoubir? Fazes-me alguma e apanhas um balázio nos dentes!". Escusado será dizer que a resistência da UE ficou-se por aí.
Esta atitude extrema levou a uma corrida ao armamento de grande parte do mundo ocidental, oriental, antípodas e pólos inclusivamente-os pinguins armavam-se como se não houvesse amanhã!
Este facto levou Tcholes a iniciar o PNC (Programa Nuclear Catxineiro) sendo o Alentejo reservado para os testes subsequentes.
Ninguém sabia qual seria o próximo passo de Tcholes. Ninguém sabia o que ia na cabeça daquele atrofiado ser. Toda a gente em torno do seu general, era esse o lema que imperava nas Catxines, e era isso que todo o povo planeava demonstrar no discurso de Tcholes na sua terra natal.

Tudo se preparava ao mínimo pormenor. O toldo para que o digno interloctor não se molhasse. Todos os seus apoiantes mais fervorosos seriam estrategicamente colocados nas primeiras filas para que o entusiasmo fosse transbordante.
Havia uma expectativa palpável nessa tarde, apesar das condições climatéricas não serem as ideais. Todo o povo se preparava para algo grandioso. O regresso do filho pródigo. E que melhor regresso se podia pedir do que a volta de Tcholes após a conquista de toda a Península Ibérica. Era impossível haver melhores condições para a reaproximação de Tcholes às suas raízes. Há a constatar que algo havia mudado nele. O tempo que passara em campanha bélica por toda a península fê-lo um homem mais impiedoso, ganancioso e cruel. Ele já não matava com o intuito da conquista nem com objectivos ultra-nacionalistas. Nas últimas fases da campanha ibérica Tcholes surpreendia continuamente a sua armada cometendo constantemente actos maléficos de pura raiva incontrolada, o que fazia com que os seus homens começassem a não se reverem no seu líder. O que tinha começado como uma campanha em nome da identidade catxineira tinha, de certa forma, escapado ao controlo de tudo e de todos. Até ao do próprio Tcholes, que cego de raiva dor e mágoa que o vendava, não tinha o discernimento necessário para avaliar as situações e organizar o seu exército.
Muito se especulava no seio do parlamento da RUCC-e mesmo no do seu partido FC-o que estaria afectando de forma tão profunda o tão amado líder.

Pois o passado ano para Tcholes não tinha sido propriamente o mais fácil. Sua mãe havia falecido esse mesmo ano vítima de doença fulminante e Tcholes não havia estado a seu lado dada a demanda de sua presença no campo de batalha, e isso afectava-o para do que palavras alguma vez poderão exprimir. Seu pai havia cortado relações com ele discordando do rumo que o seu filho estava a dar à RUCC-sendo que o seu pai havia sido na juventude de Tcholes o grande motivador da sua cria, sempre encorajando-o e incentivando-o dizendo-lhe "vais ser mestre de grande obra". Pode-se imaginar, portanto, o transtorno que este gesto significou para Tcholes. O seu pai desde sempre achava que a conquista de toda a região norte seria o culminar de um grande feito que traria prosperidade e desenvolvimento à região.
No campo amoroso Tcholes tinha tudo excepto estabilidade. Suas meretrizes não lhe traziam o conforto e incentivo emocional e espiritual de que ele tão desesperadamente necessitava e tentava alcançar. Tcholes afundava-se na sua própria miséria. O seu único escape era o campo de batalha.
Muito se bichanava acerca do conteúdo do discurso que iria proferir essa noite. Uns diziam que iria anunciar a sua retirada do comando dos destinos da RUCC, outros apontavam a expansão do império a terras gaulesas. Outros pensadores e intelectuais dessa muy nobre terra expunham a possibilidade de Tcholes anunciar um interregno nas hostilidades da expansão ficando invariavelmente à frente da RUCC.

Tcholes chegou cedo nessa manhã, de coche, sendo saudado na rua principal por todos a que lá acorreram com pétalas de rosas e cravos. Uma cena digna de uma recepção a um imperador romano. Tudo o que o rodeava era ele e ele era tudo.
Tcholes fitava a multidão com extrema intensidade. Os primeiros cabelos brancos tinham já irrompido pelos seus lóbulos capilares, as primeiras rugas começavam a cravar-lhe a face, a postura era a de quem tinha visto e presenciado tudo o que havia a ver e a presenciar e que nada o poderia surpreender ou apanhá-lo de surpresa. Um homem vivido portanto. Um homem que tinha traçado um longo caminho até chegar onde havia chegado, ao ponto de ter toda esta multidão a seus pés. Um longo caminho desde os dias em que pensava iniciar uma épica campanha pela qual todos o zombavam quando o jovem Tcholes tentava exprimir os seus sonhos. Uma pessoa calejada que transparecia esse facto no seu olhar e em toda a sua postura.
Essa degradação emocional e espiritual levariam-no a cometer um terrível acto a todo o seu povo de sempre e acima de tudo uma traição a si mesmo. Com a qual teria de confrontar o seu povo nesta sua visita. Algo tinha Tcholes escondido de tudo e todos durante estes últimos tempos. Ele próprio sabia que ninguém o iria perdoar. Nunca.
Já há algum tempo que Tcholes se sentia mais e mais vergado à pesada responsabilidade de comandar tamanha nação. Todos os seus jogos de interesses, trocas de influências e jogos sujos. A partir de certo momento Tcholes começara a ambicionar apenas uma vida simples, longe de toda esta imundície que caracterizava o comando de uma grande nação. Nada nem ninguém, no entanto, estava preparado para a realidade que Tcholes tinha escondida e estava prestes a revelar da forma mais inesperada.

8 Comments:

Blogger Arba:a said...

Bem...o que dizer destes novos desenvolvimentos? O suspense fica no ar, a narrativa é excelente, a dinâmica do texto é pujante...temos obra a nascer! Caro amigo Pedwar, um talento assim não pode ficar tanto tempo escondido...Venham mais e mais posts destes para que eu seja tão surpreendentemente arrebatado quando estou confortavelmente sentado em frente a este animal - o computador. Parabéns, muito bom post...!! Abraço

06 novembro, 2006 23:33  
Anonymous Anónimo said...

que venham as declaraçoes de Tcholes!!!!

08 novembro, 2006 01:03  
Blogger Dalet said...

Não percam o próximo episódio porque nós... também não!!

08 novembro, 2006 01:06  
Anonymous Anónimo said...

Merda de post, merda de escrita, merda de blog.

Como diria Millor Fernandes, se soubesse que foi aqui ultrajado, Fuck Off!!!

09 novembro, 2006 19:49  
Blogger Pedwar said...

Vindo de quem vem, xôr habitante de Catxines, vou interpretar o seu comentário como um rasgado elogio e deveras um incentivo! É sinal que fiz algo digno de chamar a sua atenção. E já agora: Muito obrigado por ter tirado o tempo para reparar no nosso humilde blog...

09 novembro, 2006 20:33  
Anonymous Anónimo said...

sera um descendente de tcholes??hahaha catxines rules... postal

10 novembro, 2006 20:05  
Blogger Catus said...

valeu a pena ter pedido a continuação da saga!

12 novembro, 2006 04:34  
Blogger Catus said...

O lider do RUCC também é um homem com as suas necessidades, aliviado nas profissionais, mas a velhice chega um dia... Será que o autor pensou nisso? :)
E os herdeiros bastardos?
Como vai exercer o seu dominio sobre a peninsula?
Tantas perguntas tem os fãs como eu de tcholes e seus comparsas.

22 novembro, 2006 14:12  

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